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“Um concelho com cerca de 130 mil habitantes tem de ter râguebi”

Inês Gonçalves Mendes por Inês Gonçalves Mendes
Maio 23, 2024
em Entrevista
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“Um concelho com cerca de 130 mil habitantes tem de ter râguebi”
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Em 2019, afirmou que Leiria não era uma cidade propriamente virada para o desporto. Passados cinco anos, qual é a sua percepção da cidade?

Continua a não estar virada para o râguebi. Fizeram-me uma homenagem este ano e fiquei muito sensibilizado, mas fiquei ainda mais sensibilizado por aquilo que vi. Leiria hoje, comparada com Leiria do meu tempo, não tem nada a ver. A quantidade de modalidades e pessoas que tem, fiquei realmente de boca-aberta. Mas no râguebi, não, o que é uma pena.

Teve uma infância ligada ao futebol com uma passagem marcante no Sport Clube Leiria e Marrazes. Como aconteceu a mudança para o râguebi?

Estive ligado ao futebol e a tudo. Sou campeão distrital em quase todas as modalidades, mas o futebol acabou por ser aquele onde andei mais. Na altura, a vida não era como hoje. Era estudar pouco e jogar muito, em todas as modalidades. Foi uma altura muito feliz da minha vida. Em 1962, jogava futebol no Futebol Clube Marrazes. Eu, que era mais rebelde, dizia ‘isto não pode ser, somos de Leiria, por que razão é Marrazes?’ Falámos com os dirigentes da altura e eles perceberam que aquilo tinha de mudar. E ficou Sport Club Leiria e Marrazes. Com o equipamento à Académica, preto. Até o emblema é parecido, só que tem o corvo. Em 1962, fomos pela primeira vez campeões regionais. Quando jogava no Marrazes era o único que ganhava dinheiro. As pessoas achavam que tinha jeito. E depois tive convites da Académica e do Sporting Clube de Portugal. Ao mesmo tempo, quando cheguei à faculdade de Agronomia, estavam à minha espera na entrada dois matulões, que perguntaram “Oh meu menino, fazes algum desporto?”. Respondi que jogava futebol. “Jogas não, jogavas. Aqui não há futebolistas”. Nesse ano, comecei logo a treinar com eles, mas como ganhava dinheiro no futebol, não pude jogar. Só joguei no ano seguinte. Depois percebi a diferença entre uma coisa e outra. Gosto de futebol, mas o râguebi não tem nada a ver.

O que lhe chamou a atenção no râguebi?

A camaradagem, a lealdade, o espírito de amizade e sacrifício. Sobretudo, o respeito pelos outros e pelo árbitro. Quem vai ver jogos de râguebi não vê ninguém a refilar com o árbitro. Já perdi muitos jogos ‘por culpa do árbitro’ e nunca alguém me ouviu a atribuir-lhe culpas. Ninguém fala com o árbitro, até porque se falar a falta passa a ser 10 metros à frente. Com um cartão amarelo, no râguebi, [o jogador] vai para a rua 10 minutos. As regras são muito mais transparentes e educativas. Não somos diferentes, o espírito é que é outro.

Há a ideia de que os jogadores de râguebi são agressivos e rufias.

Rufias não, é ao contrário. Há um ditado inglês antigo que diz: o râguebi é um desporto de rufias praticado por senhores. No fim do jogo, as equipas juntam-se, a chamada terceira parte, e vamos beber uma cerveja. Somos todos amigos uns dos outros. Não há ronhas, ninguém se atira ao chão, até porque ninguém quer sair. E se puderem ganhar por 100, não ganham por 99. Esse é o respeito pelo adversário. O melhor respeito ao adversário é dar o máximo e toda a gente dá o máximo.

Na última Gala do Desporto, onde foi distinguido com o Prémio Prestígio, desafiou o Município de Leiria a apostar mais no râguebi. Sendo natural de Leiria, lamenta o facto da modalidade ter pouca expressão no concelho?

Lamento mesmo. Já tentei várias vezes. Um concelho com cerca de 130 mil habitantes, que tem muitas escolas, tem de ter râguebi. Soube que houve um professor de educação física presente na Gala [do Desporto] que gostou da conversa. Gostava de fazer um almoço com os professores de educação física daqui, tenho de os motivar, e outras pessoas que queiram participar, porque o problema é começar. Quando começarem, vêem que não há desporto igual. Sobretudo nos jovens, onde deve começar. No râguebi, todos podem jogar. Baixos, altos, magros, gordos, toda a gente tem lugar. Dá um espírito colectivo muito diferente de todos os desportos. É o único desporto, que eu conheça, que para pontuar o jogador tem de ter a posse da bola. Luta-se pela bola centímetro a centímetro.

O seu apelo teve resposta?

Ainda não. Vi só esse professor. Aquilo que digo é: estou disponível para apoiar. Leiria é um meio bom, temos relvados bestiais. Temos de ter é gente que saiba para ensinar, e nós ensinamos. Que razões aponta para a falta de investimento no râguebi? O râguebi foi sempre tido como um desporto elitista e não é. É elitista nos princípios e nos valores. As regras no râguebi são um bocado mais complicadas mas, para os miúdos é fácil, nem sequer há placagens. O que não há é tradição. Temos de voltar às escolas e ao desporto escolar – que não funciona como deveria – para saberem o que é a modalidade. Porque os miúdos, quando vêem, querem. Tivemos um roadshow no passado, que vamos voltar a fazer, onde demos bolas aos miúdos. É a única bola que não é redonda. Até nisso somos diferentes. Cerca de 70% dos jogadores em Portugal estão em Lisboa e arredores. Não pode ser, temos de vir para aqui. Leiria tem tantas possibilidades, sei que parte dos campos têm relvado sintético, podem jogar râguebi aí. A relva não se estraga. Em Itália, por exemplo, no Estádio Olímpico de Roma, o José Mourinho jogou numa terça-feira, nós jogámos no sábado e ele voltou a jogar na terça-feira seguinte no mesmo estádio. Só cá não é possível, é a mentalidade. O nosso maior problema é justamente a falta de espaço para jogar. Tem de haver espaços e horas específicas para o râguebi.

O râguebi é uma modalidade com poucos praticantes. Com um número reduzido de clubes de râguebi na região, é possível atrair os jovens?

É, com divulgação e desenvolvimento. Mas só se desenvolve aquilo que há. Primeiro têm de conhecer. Tal como fizemos o roadshow, temos de fazer mais vezes. Qual é a ideia dos pais, hoje em dia? Que no râguebi quase se matam uns aos outros. Nada disso. As pessoas preparam-se de uma maneira diferente. É um desporto muito saudável. É mais complicado, sem dúvida, mas não é um desporto só para determinadas pessoas. Todos podem entrar. E nós queremos que entrem. Eu comecei a jogar na universidade. Na altura, só podiam jogar os alunos de Agronomia. Depois, quando já era presidente de Agronomia, antes de ir para a Federação, abrimos aquilo. Nunca faltava a um treino porque gostava de estar com os meus amigos. E diziam “perdiam mas estavam todos a cantar nos balneários”. Claro, era uma alegria estarmos juntos. O râguebi faz-se com alegria. Somos todos amigos, ainda hoje. Tive a sorte de experimentar várias modalidades. Reconheço que todas são importantes, mas o râguebi é diferente, experimentem.

Ficou satisfeito com a exibição de Portugal no último mundial, em França?

Há duas equipas no mundial que ficaram para a história. O campeão, África do Sul, e Portugal. Pelo tipo de jogo que fizemos, nem eu queria acreditar. O orçamento de outros países é de 150 milhões. O meu é agora três milhões, mas era um quando cheguei. Todos têm centros de estágio fantásticos, nós não temos um campo para jogar. Temos um estádio quando o futebol deixa. Preciso que o Governo português perceba que nós temos direito ao nosso espaço. Queremos condições condignas, um campo para sete ou oito mil pessoas. O orçamento do Governo para o mundial foi praticamente nenhum, deu-nos o mesmo que dava no passado. A preparação custou 1,5 ME. Para nós, este valor tem um peso brutal. Uma equipa tem 15 pessoas, temos de levar 33 jogadores. Mais o staff, que são outros 15 ou 20. O staff da Irlanda, por exemplo, tem 29 pessoas. Nós levámos 16 e já foi fantástico. A selecção é nacional, o nosso patrão é a nação. Porque melhorámos brutalidades no mundial? É um fenómeno muito simples. A nossa equipa, os Lobos, tem qualidade. Metade joga em França, são profissionais. Os de cá não, têm outras profissões. Durante quatro meses foram profissionais. Esses homens, com quatro meses de preparação, subiram ao nível dos profissionais. O mundial em França foi uma coisa espectacular.

Acredita que a selecção nacional de râguebi estará no Mundial de 2027? Porquê?

Absolutamente. Porque temos uma boa equipa e vamos trabalhar bem. Com competência, trabalho e dedicação. É preciso um bocadinho de sorte, também. Daqui a um ano, estamos apurados para o mundial na Austrália.

Agora as regras também mudaram.

Passo a vaidade, mas tive interferência nisso. Estive três meses em Paris durante o mundial. No mesmo hotel, estivemos todos os presidentes. Levei vinhos portugueses para a malta experimentar. Defendia que tínhamos de alargar [a competição] e os melhores países – África do Sul, Nova Zelândia, Austrália – não queriam aumentar o número de selecções participantes. Ganhar às Fiji foi importantíssimo. Estava na base, em Paris, mas juntava-me à selecção nacional nos locais onde jogavam. Quando cheguei a Paris, depois do jogo com as Fiji, estavam à minha espera e o presidente sul-africano tinha-me deixado uma mensagem. “Com a exibição que fizeram e com a tua conversa, convenceste-me, portanto, estou a favor do alargamento. Eu e os outros”. E foi com base nisto que aumentaram para 24 países. Antes eram dois da Europa apurados directamente, passam a ser quatro. Vamos estar no grupo da Roménia, Alemanha e Bélgica. Destes quatro, vão dois. Não acredito – ía embora imediatamente – que não fiquemos apurados para o mundial.

Há países com uma forte tradição no râguebi, como a Nova Zelândia ou a África do Sul. Em 16.ª posição no ranking mundial, Portugal tem capacidade para rivalizar com estes países?

É uma boa posição. Há 10 anos que ninguém os tira de lá. São muitíssimo mais ricos que nós e com mais tradição. Temos capacidade para rivalizar com os outros porque somos bons e trabalhamos bem. Somos melhores na qualidade e menores na quantidade. Depois da formação é um grande problema. Os jogadores chegam aos 22 ou 23 anos, estão licenciados e não querem continuar.

Foi reeleito no ano passado. Este será o último mandato?

Quando chegar à Austrália faço 80 anos, portanto não quero mais. Em 2027, saio. Com o sentimento de missão cumprida? Nunca, quero sempre mais. Penso que bati todos os recordes e quero continuar a bater, um pouco como o Ronaldo. Ir ao mundial duas vezes consecutivas é uma das razões pelas quais continuo cá. É mais um recorde. Quero ter o estádio também. Se vivesse 500 anos, tinha 500 anos de projectos. O meu pai já dizia ‘Nunca estás bem’. Não, não estou, quero sempre mais. Em retroespectiva, fiz muita coisa boa. Algumas más também, naturalmente. E queria fazer um jogo internacional em Leiria para acabar isto. Uma cidade como esta não tem direito a ver um jogo internacional de râguebi? Tem, com certeza.

Morcelas e chouriço abastecem-se em Leiria
Carlos Amado, ou Cabé, como é conhecido pelos amigos, não abdica de visitar a cidade que o viu crescer. Em Leiria, nos anos 60, firmou a sua dedicação ao desporto e a viragem para o râguebi aconteceu já em Lisboa, quando ingressou no Instituto Superior de Agronomia. Foi jogador, treinador e presidiu durante 35 anos o Clube de Agronomia. Em 2010, foi eleito presidente da Federação Portuguesa de Râguebi, até 2015. Depois de um interregno, regressou ao cargo em 2019, onde se mantém até hoje. Tem orgulho em afirmar que esteve envolvido no arranque dos projectos de requalificação do Vale do Lis. Já com 77 anos, tem um hábito que nunca muda. É a Leiria que vem quando precisa de abastecer o stock de morcelas e chouriço. Em Lisboa, não há igual, garante.
Etiquetas: australiaCarlos Amadofederação de râguebiLeiriamundialNova Zelândiaselecção nacional de râguebi
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