Nas minhas leituras atrasadas, peguei na revista do jornal Expresso de 2 de Fevereiro passado e encontrei um artigo sobre o ex-patrão da aliança Renault-Nissan-Mitsubishi, Carlos Ghosn, de origem brasileira, viveu no Líbano e foi educado em França, preso no Japão por fuga ao fisco e outras habilidades financeiras em proveito próprio e em prejuízo da Nissan.
Carlos Gosn era considerado um mito da gestão que conseguiu recuperar a Nissan, embora à custa do corte de 21 mil postos de trabalho, uma solução pouco simpática para a cultura japonesa, mas os resultados obtidos pela gestão de Gosn, em termos de recuperação da Nissan, obrigaram os japoneses a ir engolindo o sapo.
Mas o ponto fraco de Gosn, como o de muitos gestores de topo, e que levou à sua queda, foi a ganância.
Apesar de o seu salário ser 240 vezes maior do que o salário mais baixo praticado na empresa, Gosn criou um esquema secreto de retirada de rendimentos da empresa a seu favor, não contabilizados.
Entretanto, a estrela da Nissan começou a perder brilho, as vendas baixaram e as perspectivas de recuperação não eram famosas, criando-se as condições para que os japoneses pudessem retaliar.
Gosn foi preso em Novembro passado, colocado [LER_MAIS] numa cela de cinco metros por três metros e meio, a casa de banho a um canto da sala, as luzes sempre acesas, sem colchão, sem papel, caneta ou música.
Em Fevereiro passado, pagou uma fiança de cerca de dez milhões de dólares e aguarda julgamento em liberdade, mas sempre vigiado pelas autoridades.
Este conto (i)moral deixa-nos, mais uma vez, uma interrogação: qual o futuro deste capitalismo neoliberal que gera tantas desigualdades?
Qual a explicação racional para que o leque salarial numa empresa possa chegar a 240 vezes?
Para que servem tantas novas tecnologias se o nível de felicidade das pessoas é cada vez menor?
O que vai acontecer à democracia se os regimes de capitalismo neoliberal hoje dominantes continuarem a gerar cada vez mais desigualdade?
*Economista