A pandemia que separa também aproxima. A viver em Itália no primeiro momento de explosão da Covid-19, Helena Freitas regressa a Pombal e reencontra-se com o irmão, Pedro, sob o mesmo tecto. No meio da destruição, iniciam a criação. Recuperam canções, cumplicidades, cadernos antigos. E inventam o duo Salomé, que esta sexta-feira, pelas 21:30 horas, na Casa Varela, apresenta e coloca para venda o primeiro EP, com o título Terra Molhada.
Salomé, segundo Pedro Freitas, é a “personagem fictícia” onde se reúnem “muitos sonhos e ideias” partilhados com a irmã, Helena. Os seis temas do EP de estreia convidam a passear “entre universos temporais, descalços na Terra Molhada”, lê-se na nota de divulgação. Como um “Outono, húmido, nostálgico e cheiroso”, eternizado “por entre carvalhos e arbustos, magnólias e tulipas”.
Há fragilidade, memória e todos os sentidos da palavra casa num registo íntimo e pessoal, “carregado de passado” e “da vontade de reviver”, que é, por outro lado, um “trampolim para o futuro”.
Entre a indie pop e a indie folk, com influências que vão de Linda Martini até Sérgio Godinho, Terra Molhada tem produção de Rodolfo Jaca, estará disponível em formato booklet e é o primeiro lançamento da plataforma digital Álbuns Mudos, onde ficam alojadas as canções e outros conteúdos multimédia.
Musicar a memória
Também a preparar o primeiro registo de estúdio, que só deverá sair em 2022, Leonel Mendrix e Ricardo Grácio tocam na Casa Varela, enquanto Fio-Manta, no dia seguinte, 6 de Novembro, às 18:30 horas.
Munidos de instrumentos como a viola beiroa, a viola clássica, a guitarra eléctica ou a flauta transversal, apresentam-se ao mundo como “exploradores ferozes” com vontade de “musicar o encontro da memória com o desconhecido”.
Se Leonel Mendrix vem de um lugar musicalmente mais urbano, manifestado nos projectos Sinestetas Albinos, Miss Cat e o Rapaz Cão ou Rapaz Improvisado, com influências do jazz, do blues, do rock e das sonoridades ambientais e experimentais, Ricardo Grácio junta-lhe a raiz popular e em conjunto propõem uma viagem que se inspira “na música tradicional, com roupagem contemporânea”.
No concerto do próximo sábado, vão dar a conhecer muitos dos temas que pretendem incluir no álbum de estreia.
Um ano de Casa Varela
Aberta em Novembro de 2020, a Casa Varela conseguiu, apesar da pandemia, contribuir para o avanço cultural de Pombal, considera o director artístico, Filipe Eusébio.
Os objectivos incluem apoiar a criação e a produção com condições técnicas e financeiras, potenciar o dinamismo que já existia, motivar artistas de Pombal a trabalhar no concelho, mesmo os que estão fora, e contribuir para a profissionalização das artes.
Por outro lado, o centro de experimentação artística “pretende, passo a passo, afirmar-se em termos regionais e nacionais”.
Neste primeiro ano, cerca de 50 criadores desenvolveram trabalhos no edifício histórico adaptado para acolher residências, exposições, performances e outras actividades culturais. E um total de 23 projectos de música, circo contemporâneo, artes plásticas, pintura e media art nasceram na Casa Varela, mais de metade assinados por artistas de Pombal.