Manuela Marques só tem elogios para o projecto Pedras Contadas. “É um lavar de alma, absolutamente gratificante. E é surpreendente, também”.
A vice-presidente da Associação Memória Avelarense (AMA) é uma das 90 pessoas, dos cinco aos 95 anos, envolvidas no espectáculo de criação colectiva que se estreia no próximo domingo, 8 de Maio, desenvolvido por seis grupos locais com o colectivo Pele, do Porto, ao longo de três meses de práticas artísticas comunitárias.
Pedras Contadas é um percurso sonoro e performativo, co-criado e interpretado por habitantes de Ansião, Figueiró dos Vinhos e Pombal, que pesquisa narrativas individuais e colectivas ligadas à pedra como elemento estruturante da paisagem, da história, da cultura, da economia e do quotidiano das populações naqueles territórios do norte do distrito de Leiria.
Desde o primeiro ensaio em Fevereiro – que “começou por uma conversa entre todos, cada um com as suas memórias”, explica Manuela Marques – sucedem-se “bons momentos” e recordações “muito divertidas”, além da descoberta de um processo aberto e democrático, em que todos colaboram.
A tradição sugerida pela vice-presidente da AMA – o lavar de roupa na Ribeira de Alge – está representada no enredo, tal como o cozer do bolo na romaria de Nossa Senhora da Guia, cerimonial a que também se encontra vinculada por laços de família.
Na verdade, todas as 22 cenas que constituem o percurso sonoro e performativo surgiram durante os ensaios, a partir de “memórias ou histórias partilhadas pelos participantes”, explica Inês Lapa, do colectivo Pele. O título inspira-se no contributo do Sr. Casimiro, de Figueiró dos Vinhos, sobre a época em que nas vindimas cada cesta com uvas correspondia a mais uma pedra, até se atingir o número pré-definido para regressar a casa.
O que é que as pedras contariam se pudessem falar? O que gostaríamos de gravar na pedra? Exercícios de teatro, música e movimento ajudaram a responder a estas e a outras perguntas, numa dinâmica que se alimenta das trocas entre gerações, incluindo entre pais e filhos.
“As pessoas acima de tudo sentem que vamos com curiosidade para as ouvir”, afirma Inês Lapa. “Para nós é muito importante o princípio de que qualquer pessoa é capaz de criar, no contexto certo e com as ferramentas certas”.
“Há ainda muitas histórias para contar e muitas histórias que se vão perdendo”, mas cumpre-se o objectivo de valorizar a identidade de cada território e abrir um “espaço de reflexão, acção e participação” que fortalece as comunidades e gera mecanismos de transformação “individuais e colectivos”, refere ao JORNAL DE LEIRIA.
No espectáculo participam a Associação Memória Avelarense, o CLDS Agir Sempre+, o Coro Municipal Marquês de Pombal, o grupo de teatro O Meiinho da escola Pascoal José de Mello, o Rancho Infantil Serras de Ansião e o laboratório Trelear.
Pedras Contadas, que termina com os 90 intérpretes a cantar em conjunto, insere-se no projecto Territórios da Pedra e é apresentado pela primeira vez no domingo, 8 de Maio, às 17 horas, na Serra da Portela, em Pousaflores, concelho de Ansião. No sábado, 14 de Maio, está em Figueiró dos Vinhos, com início na Igreja de São João Baptista, e a 21 de Maio em Pombal, no castelo.