“Chama-se Casas Primeiro e resulta de uma parceria entre a Câmara de Leiria, a Junta de Freguesia, que financiam o programa (o Município custeia três casas e a Junta uma) e a InPulsar – Associação de Desenvolvimento Comunitário, que irá operacionalizar o projecto. Numa primeira fase serão abrangidas quatro pessoas que vivem nas ruas ou em casas abandonadas na cidade, mas há a perspectiva de vir a ser alargado” conta este jornal na sua última edição.
Este é um dos mais interessantes exemplos de Inovação Social, uma área de intervenção que dá novas respostas sociais para velhos problemas.
A filosofia dos projectos Housing First – cujos impactos positivos se encontram estudados sobretudo nos EUA, Canadá e França – é sobretudo inverter práticas antigas para atingir grandes taxas de sucesso: em vez de tentar reabilitar os sem-abrigo e depois esperar que obtenham casa, este programa financia primeiro o arrendamento, o mobiliário e equipamento básico, bem como os consumos de água, electricidade e gás e de seguida reabilita as pessoas.
Porquê? Porque oferecer estabilidade habitacional a estas pessoas é condição necessária para a pessoa aderir a qualquer projecto de saúde ou projecto social. Uma casa significa recuperar a identidade como pessoa e cidadão e poder libertar-se do estigma do sem-abrigo.
Uma casa é um início, é um motivo, é uma oportunidade, é o retomar de alguma normalidade, é um pouso seguro e a hipótese de reaprender a viver socialmente. Fazer reset.
Imagino as vozes de protesto movidas a ignorância – a mesma que reclama do RSI – alarmadas com o nosso rico dinheirinho gasto com “estes malandros que não querem trabalhar”. Pois parece que vale a pena, afinal: de acordo com o The Guardian, a Finlândia conseguiu economizar 15 mil euros ao ano, em serviços de saúde, sociais e sistemas de justiça, por cada sem abrigo que o projecto acolheu em Helsínquia. E o sucesso mede-se em euros poupados? Não.
Em número de pessoas que não volta à rua. Em número de pessoas que retomam um percurso de vida.
Vão-me dizer que vai ser difícil encontrar estas casas no actual momento de especulação imobiliária? Pois vai.
Mas há outras coisas igualmente difíceis, como ver pessoas a abrir contentores para remexer no lixo à procura do jantar, imaginar o olhar baço dos que após uma refeição têm de abandonar o local debaixo de telha onde jantaram para voltar à rua, ao frio, à indiferença, ao grande e gelado silêncio que é a noite.
Neste balanço do deve e haver, a Inovação Social é um movimento inteligente, muito diferente da caridadezinha: fabrica diariamente pelo país fora canas de pesca para muitas pessoas. Porque dar o peixe fica bem na fotografia, mas não resolve de facto, quase nada.
Para os curiosos com este ovo de Colombo, mais informação em housingfirstguide.eu