A recente polémica dos kits de incêndio veio por a nu a incapacidade do governo em lidar com catástrofes, além da comprovada inabilidade em garantir algumas das principais funções do Estado.
Hospitais paióis militares e proteção das populações são tarefas fundamentais que o governo tem demonstrado, por variadíssimas vezes (demasiadas), não saber acautelar.
Em junho de 2017 morreram dezenas de pessoas, naqueles que ficaram conhecidos por “incêndios de Pedrógão”.
O governo disse que as condições meteorológicas foram as responsáveis por esse morticínio, tese que, enquanto cidadão, aceito, embora com reservas.
Relativamente a esse verão, os factos são esmagadores, pois o mês de setembro foi o mais seco dos últimos 87 anos, sendo que mais de 88% do território se encontrava em seca severa ou extrema.
Face a isto e mantendo-se essa situação de perigo evidente, o governo, inexplicavelmente, permitiu que o dispositivo de combate a incêndios fosse desativado no início de outubro e a tragédia repetiu-se, matando mais cinquenta pessoas.
Face à intolerável repetição do desastre, António Costa limitou-se a dar uma entrevista num quartel de bombeiros, dando de barato que o governo havia falhado. Assim, sem mais…
Famílias inteiras morreram imoladas no fogo e o primeiro-ministro limitou-se a dizer que aquelas mortes serviriam de lição para “evitar erros futuros”.
Mas os sessenta mortos de Pedrógão não foram suficientes para o governo, no mínimo, estar alerta?!
O responsável pelo desativamento do "estado de prontidão máxima" vai ficar sem responder por esse ato completamente irresponsável, e, porventura, criminoso?
Como o governo sabe que a opinião [LER_MAIS] pública portuguesa aceita tudo, qualquer explicação serve para justificar o que é injustificável.
Fornecem-se kits às populações para se protegerem e logo que se descobre que são inflamáveis vem o ministro (inflamadíssimo) dizer que é tudo um disparate sem sentido para, logo a seguir, mandar abrir um inquérito urgente.
Se acha que as acusações não têm sentido para quê um inquérito?! A desorientação e incompetência do MAI foram ao ponto de afirmar que o kit era de demonstração;
Assim, as pessoas aprendiam a usar a gola mas não a podiam utilizar em caso de incêndio, isto é, ficavam a saber usar a que era inflamável mas não tinham (nem lhes fora fornecida) nenhuma outra que fosse antifogo para usarem em caso de emergência.
O facto de a opinião pública ser absolutamente permissiva com os governos dá lugar à mexicanização da política e, por consequência, do próprio país.
Infelizmente, a comunicação social, um dos grandes pilares da democracia, tem contribuído para o agravamento deste cenário de atavismo social e de empobrecimento contínuo da intervenção cívica, através da sua postura demasiado permissiva e acrítica.
Cada vez mais, os média noticiam com a evidente e, porventura compreensível, preocupação de não melindrarem demasiado o poder instalado.
Estamos a ficar, cada vez mais, parecidos com os povos a sul, no afastamento contínuo, relativamente às exigências dos países do norte.
*INTERVIR JÁ – Movimento Cívico
Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990