Chegar a um sítio novo é uma promessa de possibilidades. Para o bem ou para o mal. Depende do estado anímico. Se chegarmos de noite a um sítio novo, a promessa de possibilidades é infinita.
Ali, na varanda de um hotel desconhecido, pensar em cada uma daquelas luzes de cidade aleatórias como almas que seguem um caminho certo. Sabido. Inquestionável. À noite, é como se o mapa que desconhecemos fizesse todo o sentido lá fora.
Por momentos, pensar que o resto da humanidade sabe toda um bocadinho mais do que nós. De onde vêm, para onde vão. Mais importante ainda, por onde vamos? Como se a vida se resumisse a uma revista trendy de propósitos e desígnios, chegar a um sítio novo e ter a resposta a todas as perguntas.
Comer bem é a norte. Boa música é ao fim da rua. Compras é mais para a direita. Museus é à esquerda. E a partir daí, imaginar todo um infinito de possibilidades:
#1Os melhores lugares para combater a ansiedade no bairro gótico.
#2Os dez melhores sítios para encontrar o amor de verdade no centro histórico.
#3 O ceviche da felicidade certa que não pode mesmo perder.
Ali, na varanda de um hotel desconhecido, sentir instantaneamente que viajar é pôr a vida nas mãos da própria vida. É cortar as vazas à rotina do percurso quando este não bate certo. É tentar, pelo menos, que não é coisa pouca.
Viajar é bom por princípio. É obrigar os olhos a afinar a mira para cenários alternativos. É fazer as mesmas perguntas de forma diferente. [LER_MAIS] Como num jogo qualquer, é ganhar créditos extra para conquistar as respostas. Mas, ainda assim, ali, na varanda de um hotel desconhecido, saber instantaneamente que não se trata da viagem.
A única coisa que as pessoas precisam, hoje, é de tempo. Precisam de parar. Precisam de ser. Como numa alegoria da caverna dos tempos modernos, saio da cidade nova em modo Platão desassossegado.
Num parque de estacionamento, um senhor aos gritos com alguém que escolheu o lugar errado. Ao meu lado, uma senhora comenta o aparato:
– Coitado, é segunda-feira. Devia ser mais elevado do que isto. Nem de propósito. Entramos no elevador e é como ela diz:
– Bem passando de quarta, fim-desemana à porta.
Antes de ir embora, na varanda de um hotel desconhecido, perceber que as luzes continuarão tão aleatórias quanto a minha. Tão adormecidas.
Daqui, levo as mesmas perguntas. As mesmas respostas. Mas levo a vontade de acordar, que é o mesmo que querer chegar a um sítio novo.
*Pessoa criadora de conteúdos