Estes homens, de acordo com a Guarda Civil espanhola “eram distribuídos por diferentes pontos de La Rioja como mão de obra barata para a realização de diversos trabalhos agrícolas, chegando a fazer jornadas até 10 horas diárias por 50 euros que, na maioria dos casos, se ficavam por 15 euros ou menos, após serem-lhes descontados gastos de alojamento, manutenção, tabaco, álcool e transporte”.
As vítimas pertenciam, como sempre acontece em casos semelhantes, aos excluídos da sociedade. Homens pobres, sem qualificação profissional, muitas vezes dependentes do álcool e sem força para reagir à situação. Ameaçados, mantidos num regime de terror e impedidos de contactar familiares, ficam sujeitos a uma nova forma de escravatura.
As vítimas destes crimes são normalmente oriundas de países estrangeiros, não conhecendo a língua dos locais para onde são levadas, vivendo amontoados em “alojamentos” pertencentes ao “patrão”, alojamentos sem quaisquer condições de higiene e salubridade. Tudo isto os exclui e fragiliza. São tratados como meras coisas, sendo-lhes retirada a dignidade inerente a qualquer ser humano.
[LER_MAIS] Este tipo de exploração configura uma nova forma de escravatura que se tem desenvolvido, não apenas nos países do chamado terceiro mundo, mas inacreditavelmente também neste mundo ocidental onde é suposto os direitos humanos serem respeitados.
É óbvio que esta situação é um grande negócio para o “patrão”, que aufere avultados lucros com o trabalho destes homens que escraviza. É no mínimo revoltante e repugnante! Recordemos que o artigo 4.º da Declaração Universal dos Direitos Humanos, adoptada pela ONU em 10.12.1948, estatui que “ninguém pode ser mantido em escravidão ou em servidão: a escravatura e o comércio de escravos, sob qualquer forma, são proibidos”.
É chocante sermos forçados a recordar esta Declaração Universal em pleno século XXI! Todos os homens são iguais, têm direitos inalienáveis que ninguém pode/deve infringir. Esta é uma verdade que ninguém pode esquecer! Todos nós temos obrigação de lutar para que essa igualdade de direitos se concretize.
Assim, é também nossa obrigação denunciar todas estas novas formas de escravatura provocadas pela ganância de alguns na sua vertente mais desumana. É que, como escreveu Kirsty Hayes, embaixadora do Reino Unido em Portugal (Jornal Económico de 15 de Setembro de 2017), “este problema global só pode ser eliminado se trabalharmos em conjunto, mudando atitudes, erradicando estas práticas abomináveis e julgando os seus responsáveis”
*Advogada