Num mês que fica marcado pela saída da Grécia de um programa de ajustamento (três programas, na realidade), lembrei-me daquilo que disse o atual ministro das Finanças, Mário Centeno, sobre a saída de Portugal também de um programa de ajustamento em 2014.
Para Centeno, a saída limpa de Portugal em 2014 era um “resultado pequeno para uma propaganda enorme”, num país com “crescimento anémico”. Em 2015, a economia portuguesa cresceu 1,9% e a taxa de desemprego no final do ano foi de 12,6%.
Ora, o mesmo ministro Centeno, agora presidente do Eurogrupo, vê na saída da Grécia (após três resgates) a “recuperação do controlo” de uma “economia reformada e modernizada”, onde “estão a ser criados novos empregos, há um excedente orçamental e comercial”.
No final do ano passado, a economia grega cresceu 1,4% e a taxa de desemprego rondava os 22%. É, de facto, assinalável esta dualidade de critérios para caracterizar as saídas dos dois países de dois programas de ajustamento.
Mas não é apenas Mário Centeno que tem um grave problema de coerência. É também o primeiro-ministro, António Costa, que tanto apoucou o cumprimento e o esforço feito pelos portugueses e pelo governo português para a conclusão do programa de ajustamento que agora vem parabenizar de forma eufórica [LER_MAIS] o governo grego pela conclusão do seu programa.
Os parabéns aos portugueses e ao governo responsável pelo cumprimento do programa de ajustamento continuam por chegar. Não é inédita esta falta de coerência da dupla Costa & Centeno.
Em Portugal, têm um discurso de facção, não admitindo uma única vez que as reversões de 2014 em diante só foram possíveis devido aos esforços que sempre menorizaram dos portugueses entre 2011 e 2014.
Lá fora, discorrem sobre a necessidade de continuar reformas estruturais e de evitar decisões irresponsáveis do passado (semelhantes àquelas que levaram Portugal à situação de 2011?).
Em Portugal, fazem propaganda com o alegado milagre económico que a alternativa portuguesa à ortodoxia alemã permitiu. Lá fora, gabam-se de cumprir e até ultrapassar metas orçamentais. Em matéria de coerência (e, já agora, de descaramento), estamos falados.
*Deputada do PSD
Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990