A pouco mais de 15 dias de eleições, vale a pena pensar no título que hoje escolho. Começo por dizer que sim, devemos votar porque se trata de escolher quem nos vai governar no próximo quadriénio. E devemos fazê-lo, mesmo que não concordemos com os candidatos ou com o processo eleitoral.
Votar é um dever de cidadania. Por isso, em alguns países, o voto é obrigatório. Não concordo com isso, porque é uma medida que afeta a nossa liberdade enquanto cidadãos em democracia.
Há uns anos, no Brasil, deparei-me com uma guia turística, aflita, porque tinha perdido o comprovativo de voto e não conseguia renovar a carta de condução.
Explicou-me que o voto não era obrigatório, mas quem não votasse não podia exigir nada do Estado.
Não sei se ainda é assim, mas achei que era um processo inteligente para, pelo menos, diminuir fortemente a taxa de não votantes.
Como tem vindo a acontecer nos últimos anos, a percentagem de pessoas que não votam em Portugal tem vindo a aumentar acentuadamente.
Alguns destes abstencionistas apontam as suas razões para não votar: não conhecem os candidatos a deputados, não se revêm nos partidos nem nos políticos, o sistema eleitoral que temos está viciado, etç, etc.
Mas atenção que a percentagem de não votantes engloba também pessoas mortas que, por isso, não podem votar.
A limpeza dos cadernos eleitorais, a cargo das autarquias, não é feita como devia ser. E vai continuar a sê-lo enquanto os municípios referirem a sua dimensão em eleitores e não em residentes.
Quanto ao desconhecimento dos candidatos, é um problema que se arrasta há décadas e sem solução.
Há muitos aspectos em causa, mas o principal podia [LER_MAIS] ser resolvido pela reforma dos círculos eleitorais e/ou por listas que mencionassem, não apenas as siglas partidárias, mas também os nomes dos candidatos de cada círculo.
Como as coisas ainda estão hoje, nós temos muito pouca, para não dizer nenhuma, capacidade de decisão.
Quem “elege” de facto os candidatos a deputados são os secretáriosgerais/ presidentes dos partidos.
Por contas que já fiz em tempos, do “exército” de 230 deputados, nós só elegemos, de facto, 50 ou 60.
Os restantes são “nomeados” pelas estruturas partidárias de cúpula e também, um pouco, pelo método de apuramento em vigor (Hondt).
Esta questão tem vindo à baila sempre que se perfilam eleições, mas depois cai no esquecimento. A. Costa, já há quatro anos, defendia a reforma do sistema eleitoral e os círculos uninominais.
Como isso também prejudicava os pequenos partidos, estamos onde estamos. Eu voto em Lisboa, onde há 48 candidatos, e vou ter algumas dificuldades em votar por só conhecer o primeiro da lista, A. Costa…
Se votasse em Leiria, a coisa seria mais fácil: são apenas 10 candidatos e conheço bem o ”cabeça de lista”, aliás um excelente candidato.
Mas teria dificuldades em identificar quase todos os outros, principalmente as “candidatas das cotas”, que não conheço nem me dizem nada.
Será que não há em Leiria, pelo menos na área socialista, boas candidatas daqui? Conheço algumas que já por lá passaram e com boas provas dadas!
*Economista