Com um plano onde a mensagem é “Fortalecer e Desafiar para Prosperar”, afirma que gostaria que o trabalho da sua Direcção conseguisse dotar de mais força a Associação Empresarial da Região de Leiria – Nerlei CCI e o território. Entre as metas está o alargamento do alcance geográfico da associação. Para onde e porquê?
Quando criámos e convidámos o grupo de trabalho para assumir a Direcção, entendemos que fazia sentido dar continuidade ao trabalho feito, procurando reforçar um pouco mais o que foi desenvolvido pela anterior equipa de António Poças, pois demos conta que a maior concentração dos nossos associados, cerca de 67%, está localizada entre Leiria e Marinha Grande. Para nós, faz sentido incluir outros concelhos onde desenvolver algumas dinâmicas. Por exemplo, já começámos a contactar Figueiró dos Vinhos e Ansião, no sentido de atrair empresas de lá para que possam beneficiar dos serviços e do trabalho que a Nerlei desenvolve. Também queremos descentralizar as dinâmicas da associação que, quase sistematicamente, se realizam aqui, e organizar eventos com outras associações e com o poder local, para atrair empresas e desafiá-las a partilharem connosco as suas necessidades. A associação é do distrito de Leiria, mas cobre um território que pode alargar, inclusivamente a outros concelhos, como Ourém, que não faz parte do nosso distrito mas com quem há uma ligação forte. Estamos interessados em colaborar com todas as outras associações locais e agregar e recuperar um lema que era de uma equipa anterior da Direcção, neste caso, de Jorge Santos, que é “agregar para desenvolver”. Podemos trabalhar com Alcobaça, Ansião, Benedita, Figueiró dos Vinhos ou Caldas da Rainha, por que não? Há lá outras associações locais com quem podemos e devemos colaborar. Sabemos que um dos grandes desafios que Portugal tem é a dimensão crítica. Está tudo muito fragmentado… e esta é uma percepção de empresário e não apenas de presidente da Nerlei.
Como fará para atrair mais jovens empreendedores para a associação?
Esse caminho começou com a constituição da actual equipa da Direcção. Temos vários jovens na equipa dirigente. Através delas, queremos perceber como pensam os empresários mais novos e como, juntos, criamos dinâmicas do seu interesse para os atrair. Também queremos reforçar a aproximação da Startup Leiria, não apenas em projectos mas também atrair os empreendedores a fazerem parte da Nerlei, para percebermos quais são os seus constrangimentos e ajudá-los a ultrapassá-los. Na Nerlei, temos o TICE.Leiria, um grupo de trabalho que congrega as novas tecnologias e é dos que, aqui, se mantém mais activo ao longo dos últimos anos, com a participação de uma boa parte das empresas tecnológicas de Leiria, umas mais maduras e outras mais jovens. É um ramo de actividade que envolve muitas empresas, com muito trabalho e dinamismo e um sector que exporta facilmente. É importante que as empresas regionais aproveitem mais as competências que existem para elas próprias melhorarem a sua produtividade e desempenho. O desafio é fazer com que o nosso território conheça as competências empresariais que cá estão instaladas. Muitas vezes, vamos comprar ao estrangeiro quando, aqui à porta, temos as competências, capacidades ou equipamentos de que necessitamos. Sairia feliz deste mandato se a indústria, a economia e as empresas da região se conhecessem perfeitamente.
Como se faz isso?
Já discutimos internamente o assunto, talvez passe pela criação de um forum empresarial que reuna todas as empresas da região, onde elas possam falar de si mesmas, umas às outras. A Nerlei vai fazer 40 anos, e talvez possamos aproveitar um evento que traga as empresas e elas possam expor os seus produtos, porque há coisas fantásticas em Leiria. Precisamos ainda que os empresários da região percebam o real valor de apoiar novos projectos e de investir num fundo orientado para o nosso território, de forma que o capital se junte ao dinamismo dos projectos.
Qual tem sido o impacto das iniciativas da Nerlei nas missões empresariais para internacionalização de negócios?
A Nerlei é absolutamente pragmática na preparação dos contactos com parceiros potenciais do outro lado, o que é extremamente importante. O grau de satisfação do lado das empresas é elevadíssimo e tem sido facilitador no aumento das exportações nacionais e até na colaboração entre as empresas regionais que, por vezes, não se conhecem, permitindo fazer networking.
São parceiros em várias test-beds e, até agora, qual é o balanço que fazem?
A Nerlei faz parte de cinco projectos test-bed de que fazemos a gestão, e faz parte do consórcio INOV. Recycle, que é uma rede colaborativa. Após os interessantes resultados do primeiro projecto, atraímos outros consórcios. Globalmente, trata-se de um investimento de 222.135 mil euros, para desenvolver em 2025, o que traz, obviamente, também benefícios económicos à associação e contribui para um maior sucesso dos projectos do PRR. A “Embalagem do Futuro” foi a nossa primeira agenda mobilizadora, pelos resultados que tivemos, acredito que acabámos por ser convidados para assumir test-bests de outros consórcios e isso tem muito a ver com as competências da equipa da Nerlei.
Quarenta anos depois, qual é a principal característica da Nerlei?
A Nerlei nasceu em 1985 e acredito que tem feito um trabalho mais do que meritório. Se há uma associação em Portugal que pensa no todo e que tem construído um trabalho muito isento, que não elitiza e envolve tanto os pequenos como os grandes, é a Nerlei. Todas as equipas da Direcção têm seguido esse rumo e penso que foi isso que me levou a aceitar o convite do anterior presidente António Poças. A ética é um dos valores mais fortes aqui na associação.
Foi reconhecido como “Jovem Empresário do Ano” pela Associação Nacional de Jovens Empresários em 2000. O que mudou no mundo dos negócios desde então?
Na Socem, estávamos a fazer uma viragem brutal no pensamento organizacional e determinámos que passaria a ser interdito falar de “recursos humanos” na organização. Estamos a falar de pessoas. Não gosto da ideia de tratá-las como recursos, quando, na verdade, são a essência de tudo. Trabalhamos e vivemos em busca da felicidade e tudo o resto deveria ser apenas um meio para lá chegar. Incluir as pessoas na “cadeia dos recursos” simplesmente não faz sentido. Na nossa região, as empresas nascem, em regra, pela via técnica. Os técnicos ganham um certo nível de competência, sentem-se confiantes, querem trabalhar para si mesmos e montam empresas. Algumas crescem mas acabam por bater na dimensão limite do técnico, isto é: controla um determinado número de clientes e de colaboradores, só que, para crescer, precisa de tornar-se gestor para gerir recursos, estruturar a organização e replicar o seu conhecimento nos outros. Após isto, precisa de chegar ao terceiro nível, o do empreendedor, para perceber o mundo e se adaptar às conjunturas e responder ao mundo. Um empresário de sucesso tem de perceber estes três pilares. Acredito que, hoje, à minha dimensão tenho esse domínio. Fiz, logo no início da minha actividade, um curso de gestão de longa duração, comecei a perceber o que era uma conta de resultados, o que era um balanço, onde se viam os activos e os passivos, para perceber o que estava a produzir de valor e o que isso me estava a trazer, quanto dinheiro estava a gastar e como podia maximizar o que ganho com o que sabia fazer. As viagens e contactos ajudaram-me a perceber o mundo. Se tenho um determinado número de clientes e eles precisam de mim numa determinada área, então invisto para eles e não para a minha empresa. Há quem faça investimentos e só depois vá perceber o que o mercado precisa. Em relação a 2000, globalmente, há mais criatividade, há uma percepção maior e um afinar do conhecimento para responder às necessidades do mundo.
O que prevê para a economia, perante o cenário geopolítico que se está a desenhar?
Vemos sectores muito dinâmicos na região. A construção está absolutamente dinâmica… A cerâmica, apesar das enormes dificuldades que tem tido e dos constrangimentos energéticos que tem sofrido, está forte. Mas há outros sectores que estão mais frágeis. Os moldes e plásticos estão, neste momento, mais fragilizados, e algumas empresas sentem dificuldades em sustentar o seu negócio, mas sou optimista em relação ao futuro e a região também estará optimista. Os desafios são grandes, mas já estamos habituados à incerteza em que vivemos há mais de 20 anos. Houve uma mudança brutal na forma de perceber o mundo. A 11 de Setembro de 2001, a incerteza instalou-se e não mais parou de ser a palavra do dia. Vivemos o paradigma energético, a questão geopolítica, as guerras, o Covid e depois a energia novamente. Acredito que, depois disto, os empresários estão preparados para tudo!
O pensamento estratégico nas empresas também passa por dar oportunidades de formação aos seus colaboradores em áreas que lhes interessam e que possam contribuir para o futuro da organização?
Temos mais de 500 pessoas no Grupo Socem e mais de 25 formaram- se depois dos 35 anos. São pessoas que têm uma outra visão sobre as suas responsabilidades pessoais e no trabalho, uma outra visão sobre as responsabilidades e sobre o comprometimento para participarem activamente na estrutura da empresa. Na nossa região, quase não há desnível entre o comando e os comandados. Há quase um alinhamento. Foi um choque quando, no Brasil, percebi que o administrador raramente desce ao chão de fábrica. Os funcionários quase não o conhecem, sendo isso parte da cultura. No Grupo Socem, temos o Instituto Socem, que surgiu da ideia de construir uma academia para nós e para que os jovens que viessem para a organização pudessem ter um espaço de acolhimento. Uma empresa que não tem um departamento de acolhimento para acolher os jovens estagiários mete-os na fábrica, normalmente com um tutor. E quem é o tutor? É o líder de uma equipa, ou um técnico responsável ou um coordenador. O que acontece? O tutor tem milhões de coisas para fazer. Isto significa que um estagiário, na maior parte dos casos, é “lançado aos bichos”. O instituto veio dar alguma resposta a isso, com formação, acolhimento e acompanhamento de quem vem trabalhar connosco, motivando-o para o autoconhecimento, ajudar, se possível, as pessoas a construir uma história melhor de si mesmas. Isto é também uma questão da minha própria vocação, um propósito meu. Percebi ao longo dos anos que se dedicarmos algum tempo e atenção às pessoas, elas sobem a outros níveis. Dentro de uma organização, é possível construir e iluminar estrelas que estão apagadas.
Quais são as disciplinas abordadas?
No programa, temos treino de inteligência emocional além de outras vertentes, temos neste momento, 50 pessoas da nossa organização a fazer um mini MBA. O Instituto Socem está virado também para o público em geral e temos mudado a vida a muita gente. Uns mudaram de emprego, outros construíram empresas fazendo cada um o seu processo. Há sempre um antes e um depois, para cada um.