Vilar dos Prazeres, no concelho de Ourém, foi durante décadas sinónimo de mobiliário, tal era a quantidade de fábricas que por ali se dedicavam ao sector. O auge destes negócios terá decorrido entre 1990 e 2000, recorda Luís Oliveira, presidente da Junta de Freguesias de Nossa Senhora das Misericórdias. Nessa época, a localidade concentrava cerca de 40 empresas do ramo, que totalizavam mais de dois mil postos de trabalho.
A crise no sector da construção, em 2008, fez cair as encomendas e a maioria destas fabricantes fechou portas. Neste momento, resta “meia dúzia” de unidades em Vilar dos Prazeres. Mas são empresas que acompanharam as tendências do mercado e que estão a trabalhar bem, observa[LER_MAIS] o presidente da junta.
Elisabete Araújo faz parte da sociedade de cinco elementos que lideram a Móveis Sazes, fabricante de mobiliário fundada em 1990, localizada em Vilar dos Prazeres. Explica que a unidade atravessou, como todas as outras, um período muito complicado entre 2008 e 2015, sendo que nos últimos anos tem registado crescimento, resultado das alterações que operou na sua estratégia. Ainda fabricam mobiliário com recurso a madeira natural, mas apostaram mais nas melaminas.
Além disso, passaram a apostar em catálogos, o que lhes permite produzir maior quantidade dentro dos modelos estandardizados. Com uma equipa de 19 colaboradores, têm conseguido trabalhar para revendedores de Portugal continental e ilhas, com alguma exportação para Suíça e França.
Contam com uma carteira de clientes fidelizados, mas a gestora aponta que “não é fácil manter uma actividade industrial no País, face à elevada carga fiscal e inflexibilidade do Estado”.
Também dificulta a falta de recursos humanos experientes, nota Elisabete Araújo.
José Armando é proprietário da MSilva, empresa fundada em 1981 que, depois de anos conturbados, vive hoje tempos de crescimento. O gerente chegou a ter cinco empresas em vários concelhos, entre fábrica de móveis, unidade de montagem e lojas, negócios que terminaram aquando da crise de 2008. Mas a MSilva, de Vilar dos Prazeres, resistiu e prospera porque se reinventou.
Conta com uma equipa de oito elementos, mais alguns colaboradores subcontratados, e passou a orientar-se para o mercado externo. Exporta cerca de 90% da sua produção para clientes particulares (França e Suíça), que “valorizam e têm condições para pagar por artigos de qualidade”, explica José Armando.
Desta forma garantem-se maiores margens de lucro e é possível remunerar melhor os colaboradores do que se a empresa se movesse apenas no mercado interno, salienta ainda.
O desaparecimento de algumas fábricas de Vilar dos Prazeres, durante esses anos duros, de paragem da construção, também libertou colaboradores, que vieram a dinamizar os seus próprios negócios neste ramo. A SV Móveis, de Silvino Sousa, constituída em 2014, é disso exemplo. A fábrica onde estava empregado encerrou e Silvino “não tinha alternativa se não continuar a fazer aquilo que sabia”.
O seu negócio por conta própria foi crescendo e actualmente a fábrica de 1600 metros quadrados dá emprego a nove pessoas. Produzem cozinhas, estantes, roupeiros, camas, “um pouco de tudo”, para revenda e para o sector da construção.
Além do mercado nacional, a SV Móveis também exporta, para mercados como Suíça, França, Zimbabué, entre outros países africanos.
A unidade tem crescido à custa de “muito trabalho, da procura por novos clientes”, batendo-se, como indústrias de outros sectores, com “impostos elevados”, salienta Silvino Sousa.