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Vitorino: “A cultura é uma espécie de pudim flã da política”

Cláudio Garcia por Cláudio Garcia
Setembro 16, 2021
em Entrevista
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Vitorino: “A cultura é uma espécie de pudim flã da política”
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Como é que está a viver este período de pandemia, depois de lançar um disco novo, no ano passado, que praticamente coincidiu com o primeiro confinamento em Portugal?
Não é fácil, porque as condições não são favoráveis e os promotores têm dificuldade em contratar-nos. Se bem que há um grupo de intervenientes no palco, de cantores, autores, que pertence a determinadas empresas promotoras, são três, que tiveram os seus artistas sempre em actividade. Há aspectos de privilégio, enfim, dos contratadores, que são normalmente o Estado e as câmaras municipais, portanto, também é o Estado. São os grandes contratadores. E há três promotores, que são gigantes, que tratam muito bem os seus artistas. Acho isso maravilhoso, mas não pertenço a nenhum. Nem quero. Sou mais lança livre, free lancer.

Açambarcam as poucas datas que existem?
Não, não, não. Estão muito bem colocados junto de quem contrata. Estarão muito bem colocados junto do Ministério da Cultura e junto, sobretudo, das grandes câmaras de Portugal, que têm sempre um trabalho cultural forte, o que acho óptimo. Deviam ter cada vez mais. Agora que estamos num tempo de eleições, a actividade é muita. Eu tenho muitíssima. Devia haver eleições todos os anos, era bom para a democracia, funcionava melhor.

E a cultura também?
A cultura é uma espécie de um pudim flã da política, não é levada a sério em Portugal. Não tem um C grande, é uma coisa a que recorrem os poderes quando precisam dela. Não a veneram nem a tratam como se fosse uma coisa muito importante. Que é, muito mais do que eles imaginam. Falando da música: se não houver meia-hora de música nas rádios e nas televisões num dia, a população entra em pânico.

Custa-lhe o distanciamento físico ou está mais caseiro e menos boémio?
A boémia é uma coisa da juventude. À medida que os anos passam, a boémia é menos praticável porque é preciso saúde para ela. Muita saúde. De resto, não se podia sair à noite, estes tempos fecharam muito o convívio. Mas gosto muito de conviver e continuo e consigo. Quase sempre envolve um bom vinho.

Cantar em lugares como a Marinha Grande [concerto na última sexta-feira, 10 de Setembro] tem, para o Vitorino, um significado especial?
Mais do que especial. A Marinha Grande fez a minha estreia, era eu grumete, com o Zeca, o Adriano, o José Jorge Letria, o Fausto e o AP Braga, isto ainda antes do 25 de Abril, suponho que em 73. Fomos à Marinha Grande e não deixaram cantar. Havia Guarda Republicana, Polícia, PIDE, por toda a parte. As pessoas tentaram ouvir. O povo da Marinha Grande foi sempre muito, muito resiliente, muito resistente. Às vezes, as atitudes em relação ao mesmo estímulo vão passando com o tempo, mas a Marinha Grande tem um historial muito, muito forte. Vem da resistência ao Salazar, mas, muito forte, ali nos anos 30. Nós estávamos exactamente a comemorar o 18 de Janeiro e a polícia apareceu. Acabou connosco a saírmos por trás, não sei de que teatro, já não me lembro. Com um advogado que estava a defender os cantores, alguém do reviralho. Havia alguma reverência, apesar de tudo, da polícia, por quadros importantes, com personalidades. Não cantámos, ficámos no palco um bocado, mas suponho – sabe que a memória depois começa a criar histórias que nos convêm, uma história mais agradável para nós – mas acho que sim, ficou-me na memória, que o público começou a cantar as canções que fomos proibidos de cantar.

Numa entrevista de 2016, fala de “sítios incríveis” onde cantavam clandestinamente, o Vitorino, o Zeca Afonso e o Adriano Correia de Oliveira. Já se sente à-vontade para os identificar?
Não, porque as pessoas que nos receberam, quase todas na zona do Ribatejo, ainda estão vivas e não é ético. Não sei se é bom para eles, se eles gostariam que agora se soubesse. Foram de uma coragem enorme. Era gente importante, sob o ponto de vista cultural e até com algum poder económico. Latifundários, por exemplo.

Alguns nomes seriam uma surpresa?
Seriam, seriam. Mas ainda não posso.

Passam 50 anos da gravação em Paris de três discos muito importantes para a música portuguesa, pelo Sérgio Godinho, pelo José Mário Branco e pelo Zeca Afonso. O espírito que está presente nesse tempo e nesses discos existe hoje?
O ano de 68 foi um ano importantíssimo para o mundo. Corresponde a um movimento universal, mundial, de reacção aos poderes, muito interessante. É uma revolução, sobretudo, cultural, das ideologias. No que toca a Portugal e muito à Europa, os cantores que estavam de contra-poder eram todos muito, muito solidários uns com os outros. Estou a lembrar-me de irmos cantar a Espanha com os cantores anti-franquistas em sítios dificílimos, muito complicados. Em França, havia os cantores portugueses a que chamo os cantores portugueses de Paris. Eram muito solidários. Eu aprendi com eles. Não estava em Paris quando se gravou as Cantigas do Maio, mas já andava, como disse, como grumete com o Zeca, acompanhava-o à viola. E o Zeca, os seus companheiros e camaradas de canção, de armas, eram sempre levados à frente para cantar também e havia uma democracia, um nivelamento, que ele procurava, que ele estabelecia no palco, interessantíssimo, em que éramos todos iguais, entrávamos todos ao mesmo tempo.

O sentimento de solidariedade e de contra-poder estava também nas canções.
Eram feitas para isso. Não eram bem panfletárias, porque o panfleto é muito eficiente com uma palavra de ordem repetitiva, não resiste como canção. As canções do Zeca, nós aprendemos com ele, são canções que perduram. Canções de protesto forte, não se chama de intervenção, porque todas as canções são interventivas. Todas. Até as que o Marco Paulo canta, a pensar que não são, são interventivas. No sentido em que cada um, cantor, quer que ela vá, que ela dispare.

Mas não respondeu se esse espírito existe hoje.
Nos anos 80, o espírito e o conceito de vida dos anos 60 inverte-se e aparece o yuppismo e o individualismo como culto, quase filosófico, de vida. Ele entra também pela música e entretanto há a grande explosão da música anglo-saxónica como showbizz como nunca houve no mundo inteiro. E raras são as músicas anglo-saxónicas que têm o mesmo sentido que as músicas que se faziam no sul da Europa. Isso reflecte-se depois na composição e na formação dos novos músicos e compositores portugueses. Deixa de haver tanta partilha e agora estamos no cúmulo do individualismo. Se bem que reparo que há um retomar de determinados grupos, de partilha das suas canções, de fazerem concertos juntos, coisa que nós fizemos sempre, desde que aparecemos no fim dos anos 60, princípio dos anos 70.

Falta consciência política a essa geração nova de músicos portugueses?
Se calhar, não têm de a ter. A vida deles é fácil, a maior parte. O tempo histórico é diferente, a revolução não está na ordem do dia. Mas as barricadas podem sempre ser outras. Mas há muitos cantores, muitos artistas, compositores, teatro de protesto em relação às condições em que se vive agora outra vez. Ou que se viveu sempre. Com dificuldades que são esplanadas nas suas obras. Vi com muita curiosidade e até com alguma satisfação um programa em que o Agir reuniu cantores da geração dele que cantaram canções da minha geração. Gostei muito de os ver cantar.

O que é hoje a canção de protesto em Portugal?
Há aí gente muito boa, com outra linguagem. E claro que tem de a ter. O fenómeno da música em Portugal é extraordinariamente surpreendente, porque, entre os anos 70 e o século XXI, criou-se um escol de músicos fantásticos em Portugal. Há muitas escolas de música e é nas escolas que se faz a formação. O gosto desenvolve-se na escola, um bom gosto que é contrariado pelas televisões e pelas rádios, que têm muito facilitismo a divulgar. E depois continua uma obsessão muito grande pelas músicas anglo-saxónicas em Portugal, que é muito predadora para a nossa música. Dão prioridade a música em língua inglesa e nós somos um país que tem uma língua muito forte, falada por muita gente no mundo e que é também veículo de grandes músicas do mundo, como a música brasileira e as músicas africanas de expressão portuguesa, que são fantásticas. A rádio e a televisão em Portugal não correspondem à importância que as nossas músicas têm, tanto a portuguesa como as outras de expressão portuguesa.

Como vê os resultados do Chega no Alentejo?
É uma reacção de filho zangado com o pai. Os filhos têm normalmente que afirmar-se. É uma coisa passageira. Os pais foram do reviralho, os filhos são contra o reviralho. Mas depois acontece que os filhos deles serão outra vez do reviralho. É uma tendência dos homens terem esta reacção familiar.

Não há, no crescimento do populismo, também responsabilidade da esquerda, que está no governo em Portugal há alguns anos, até com o apoio do PCP e do Bloco de Esquerda?
Acha que a esquerda está no poder? Não é bem esquerda, o Partido Socialista tem muitas tendências. Agora, tem um secretário-geral muito inteligente e resiliente. Eu não aguentava tantos ataques.

Mas não de esquerda.
Não, ele é do Partido Socialista. É uma esquerda muito light. Mas é muito mais interessante do que a direita em Portugal, que está a ficar com as unhas de fora e está cansada de não estar no poder. De maneira que fica muito nervosa e recorre ao… aquilo não é bem um partido, é aquele senhor, o Ventura. Está muito concentrado na personalidade dele, como acontece com as direitas. Normalmente, são concentradas num caudilho. E se ele vacilar, vacila tudo.

Depois de ter nascido em ditadura e de ter vivido o 25 de Abril, esperava assistir a manifestações de racismo, homofobia e individualismo como vemos hoje?
É o tempo histórico que assim o determina. A história é ondulante no seu gráfico. Ela sobe, depois desce. Um dos pontos altos da Humanidade é a revolução francesa, mas depois caiu. Depois, vem a revolução russa, que é outro ponto altíssimo, que decai. Depois acontece o Maio de 68, que é importantíssimo, sobretudo, sob o ponto de vista cultural. Mas há sempre a contra-revolução. E a contra-revolução, depois de os Homens aprenderem que ela é predadora da sua vida e dos seus destinos, provoca a revolução.

Mantém-se optimista?
Sempre. O Homem tem sempre a capacidade de se refazer.

Na nova geração de músicos portugueses, quem o entusiasma?
Entusiasma-me este colectivo de músicos muito, muito interessantes, que sabem ler música, aprendem música e têm propostas muito interessantes. As filarmónicas, em todo o interior português, são escolas de música cada vez mais importantes. E tudo isso vai tornar a música portuguesa cada vez melhor.

O que gostava de gravar a seguir?
Estou a acabar um disco, vou lançá-lo ainda este ano. Gostava de ter colaborado com a Joni Mitchell. É um dos meus ícones, uma mulher maravilhosa.

Ainda se comove por tudo e por nada?
Absolutamente. Se não, não estava no palco. Não ia à Marinha Grande, se não me comovesse, por tudo e por nada.

Dois discos em ano e meio
 
Na biografia, no site oficial, conta que um amigo lhe disse, em França, que se ganhava mais a cantar na rua ou no metro do que a lavar pratos. Experimentou e era verdade. Vitorino estudou pintura em França, já depois de conhecer Zeca Afonso, de quem se tornou amigo, durante a recruta do serviço militar, no Algarve. Em Paris, juntou-se, entre outros, com Sérgio Godinho e José Mário Branco.
 
O primeiro single, Morra quem não tem amores, surge em 1974. E o primeiro álbum, Semear Salsa ao Reguinho, no ano seguinte, com o êxito Menina estás à janela.
 
Com uma longa e recheada carreira, Vitorino lançou, no ano passado, o disco Vem Devagarinho para a Minha Beira, com os pianistas João Paulo Esteves da Silva e Filipe Raposo, que está na origem do espectáculo apresentado na Marinha Grande, no Teatro Stephens, na última sexta-feira.
 
Mais recente é o projecto Homens do Sul, com Zé Francisco, também editado.
 
Tem 79 anos e é natural do Redondo, no Alentejo, de uma família de músicos.
Etiquetas: Vitorino
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