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Home Sociedade

Viver no Paraíso

Miguel Sampaio por Miguel Sampaio
Setembro 27, 2019
em Sociedade
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O New York Times fez-lhe este ano uma visita. A Forbes apelida-o de “Hawaii do Atlântico”. O Daily Mirror chama-lhe “pedaço do paraíso”. Os Açores estão nas bocas do mundo, é um destino de eleição para cidadãos do mundo inteiro, mas também um mundo de oportunidades. Anda-se na rua e nos trilhos e encontramos alemães e canadianos de sorriso nos lábios. Talvez sintam que encontraram a Atlântida.

É considerado o local mais belo do mundo, o destino com as melhores práticas de protecção do património, está entre os dez destinos mais sustentáveis do mundo, o melhor destino para observação de cetáceos, tem património da UNESCO, reservas da biosfera, enfim, é difícil pedir mais.

E na verdade, nos últimos tempos, vários cidadãos da região de Leiria passaram a residir numa das nove ilhas do arquipélago mais a norte da Macaronésia. Uns foram atrás das paisagens, outros à procura de caça. Uns foram à procura de negócios e outros de paz. Muitos deles encontraram o seu nicho na sociedade e já não voltaram. Outros, andam cá e lá.

Mas, para alguém que não nasceu numa ilha, ser ilhéu por obrigação pode não ser fácil. Ainda por cima “nos Açores, o único lugar do mundo onde falar do tempo não é só fazer conversa”, como sublinha o escritor Joel Neto. As tais quatro estações do ano num dia só ou o rigor do Inverno.

“Chegamos a Maio extenuados, como tantas vezes – a chuva caindo-nos em cima, o vento rugindo por entre os eucaliptos ainda, o frio enregelando-nos as mão ainda, a humidade penetrando-nos nos ossos ainda.”

Podem ser também os mexericos que Vitorino Nemésio relata em Mau tempo no canal. É a dimensão das terras, é a sensação de impotência perante a potência dos elementos. Mas para muitos é ali que se encontra o verdadeiro eu nos mais frequentes momentos de introspecção. Para outros, uma aprendizagem. Outra ainda acharam ali o seu poiso definitivo.

Os Açores como conceito

Foi em 2004 que Rui Caria conheceu a Terceira e logo teve a certeza que era ali que queria ficar. Com a sua “banda de bares” foi tocar às Festas da Praia, da Vitória, e tudo se resumiu a “fascinação”. Sentiu um click. A ilha, com aquela “aproximação ao mar, que para o pescador é pão e para o turista é férias”, tinha tudo que ver com a sua Nazaré natal.

Fez daquele rochedo, onde “o mar invade tudo à volta” o seu ponto de paragem entre as várias viagens que faz para os quatro cantos do globo. Está bem, ali. Não se sente isolado, como há quem defina a vida de ilhéu. Viaja, até, muito mais do que quando residia na Nazaré. “Olho para o mar e vejo o infinito”, sublinha.

“Percebo que quem está perto não vai a lado algum. Já quem está longe… Quando vivia no continente poucas vezes saía. Como era fácil, acabava por não ir. Se vivemos nos Açores vamos, porque se não formos não vamos a lado nenhum. Pega-se no avião e vai-se. Pode parecer estranho, mas é isto mesmo.”

O seu percurso profissional na área da imagem começou em 1990. Estava muito mais ligado à televisão e ao vídeo, mas as cores e as pessoas dos Açores fizeram-no querer chegar mais além na fotografia. “É mais ou menos parecido e a linguagem é a mesma. Fui-me aproximando e despertando o interesse.”

“Costumava dizer nas minhas aulas [é formador certificado pelo IEFP na área da multimédia] que gosto tanto de fotografia que nem lhe toco. Mas depois li, compulsivamente, e estudei, não academicamente. Enfiei-me e posso dizer que é a minha nova paixão. Dá-me mais gosto tirar fotos do que qualquer outra coisa.”

Procura o “inusitado, o que o espanta, o que não se vê” e os Açores são tão ricos… O seu trabalho fotográfico é, hoje, internacionalmente reconhecido pelos editores de importantes sites de fotografia, como a National Geographic, 500px, 1x, Leica Fotografie International e Getty Images. Foi vencedor e finalista de diversos concursos internacionais e as suas fotos estão publicadas em diversos livros internacionais de fotografia.

Em 2016, foi câmara de prata da Federação Europeia de Fotógrafos na categoria de fotojornalismo na competição de fotógrafo europeu do ano, como uma foto na Praia da Vitória, na ilha Terceira. Já este ano venceu o primeiro prémio do Sony World Photography Awards, National Awards, com uma fotografia tirada durante um casamento… na Praia da Vitória.

Na secção Histórias de 28mm, no site da SIC, canal de televisão para o qual trabalha, conta pequenas narrativas das pessoas e lugares que foi cruzando. Colabora, também, com alguns dos principais jornais nacionais e internacionais.Naturalmente, muitas das suas fotos são tiradas nos Açores e na Terceira, em particular. Sim, porque cada ilha tem as suas características, únicas “no linguajar”, “nos hábitos” e “nas pessoas”, umas mais fáceis de meter, outras de manter uma relação.

“Os Açores não existem senão como conceito. Há ilhas separadas por centenas de quilómetros. Em comum há a devoção ao Divino Espírito Santo. É o elo de ligação entre as nove ilhas.”

Este puzzle é “vibrante”, “apaixonante”. “Às vezes, a fotografia não abarca toda esta imensidão. Os lugares são inusitados. Pode estar a fazer Sol enquanto estamos a falar e mal desligue o telefone começar a chover. E a parte da intempérie atrai-me bastante.”

Falemos então do Inverno, “inóspito”. “É tudo mais à flor da pele. As pessoas gritam para o mar.” Aqueles ventos de 80 quilómetros por hora que “não fazem estragos”, porque “até a arquitectura está preparada” para receber os furacões que, mais dia, menos dia, estão de regresso.

“Os açorianos estão habituados a lidar com as tempestades de forma brincalhona, mas com respeito, sem os histerismos das redacções de Lisboa quando se fala de ventos de 200 quilómetros por hora.”

Azeite, alho, cebola e tomate

Em alguns dias especiais, da Terceira avista-se a montanha. “Só vê o Pico quem o merecer”, lá diz o povo. Foi lá que a Taberna do Canal abriu há três anos e meio, na Madalena. O nome é sugestivo e legitima o que é feito na cozinha por Fernando Fernandes.  [LER_MAIS] Mas quem visita aquela vila, separada da cidade da Horta e da ilha do Faial pelo canal que via aterrar, nos anos 50 do século passado, os hidroaviões em trânsito entre a América e a Europa, não imagina que não é um picaroto, nem sequer um açoriano, que está por detrás daquele negócio.

Numa ilha em que o turismo tem um potencial de crescimento “imenso”, novas cozinhas surgem, “há espaço para todos”, mas ali, são os sabores tradicionais que persistem e “vão persistir”. Naquela taberna comem-se os “sabores das nossas avós”, tendo como base “azeite, alho, cebola e tomate”. Optimizados em grande escala pela qualidade dos produtos frescos acabados de chegar do mar, seja um belo polvo ou um delicioso peixe, e da carne, “só fillet mignon e vazia” apenas daquelas vacas que pastam em liberdade por aquela montanha acima.

Foi o pai que lhe incutiu a paixão pela caça e pela pesca, e um dia, com o amigo Luís Porém, partiu para o Pico para mais uma aventura. Pescou pouco, caçou menos, mas aqueles três ou quatro dias mudaram-lhe a vida para sempre. Estavam à noite num restaurante, em animada tertúlia com o proprietário, e tomaram de assalto a cozinha. O arroz de tomate ficou divinal. Os (poucos) peixes por eles pescados foram fritos e de chorar por mais. Pelos vistos, deixou alguém impressionado.

Não muito tempo depois, já em Leiria, recebeu uma proposta daquele novo amigo açoriano. Queria que fosse trabalhar com ele. “A minha vida profissional estava a atravessar um momento de altos e baixos, era um bom contrato e resolvi aceitar.”

E aos 50 anos começava uma nova vida para Fernando. “Facilmente me adaptei a um local tão maravilhoso e sossegado.” Entretanto, começou a fazer umas pesquisas, e encontrou uma “agedazita antiga”. Queria abrir o seu próprio negócio e aquele era o local indicado. As massadas de cherne, a caldeirada de lagosta, o polvo à taberna, os bifes e os sabores dali, o bife de atum, a linguiça com inhame, as lapas, o pão de milho…

Caiu no goto e hoje leva uma vida de trabalho, mas sossegada. Acorda, dá de comer aos cães, aos gatos e às galinhas, vai às compras, dirige-se ao restaurante, regressa depois de almoço, dorme uma sesta, dá água aos animais e vai trabalhar outra vez. No verão, “casa sempre cheia”, é das nove da manhã às quatro da manhã.

Sente falta da família, dos amigos, das brincadeiras, mas Leiria está a três horas e meia. “É um instante enquanto me ponho lá”, diz. Para já, prestes a fazer 58 anos, sente-se realizado com o que a vida lhe está a dar em pleno paraíso. “Já tive duas ou três experiências e nunca baixei os braços. Ainda bem que não desisti. Consegui marcar o meu espaço.”

Cowboy solitário

O cheiro do vento. Foi essa a primeira sensação de André Crespo quando aterrou no Corvo. Dava aulas de Educação Física em Moura e candidatou-se aos Açores. A mais pequena ilha do arquipélago calhou-lhe em sorte. Chegou no fim de Setembro, faz agora sete anos. Foi “um choque, claro”, porque teve imediata certeza de que a noção das distâncias nunca mais seria a mesma e que o estilo de vida seria profundamente alterado.

Quatrocentas pessoas no rochedo e meia-dúzia de alunos na escola. O dia-a-dia era diferente do que sempre tinha vivido em Leiria e nas terras onde leccionou, por muito que até achasse que eram no fim do mundo. Sentia-se “fechado”. “A insularidade mete medo e no Corvo sente-se bem isso”, diz. Estamos a falar da ultra-periferia da ultra-periferia.

Por semana são três aviões que chegam à ilha, que nem sempre aterram por causa do mau tempo. “Para sair tinha de pedir autorização à escola, porque nunca se sabe quando é que se pode voltar.”

Os mares revoltos dificultavam a atracagem do barco com mantimentos, de mês a mês. Quatro iogurtes líquidos custavam cinco euros, havia pouca fruta e verduras. Não havia talho e peixaria, mas naquele mundo pequeno não foi difícil para André conhecer os pescadores e os produtores daquela maravilhosa carne de vaca comprada em pedaços de cinco quilos.

O Inverno é “duro, muito duro”. São dias e dias sem Sol, com muita chuva e o vento sem dar tréguas, fechados, sem saber quando tudo vai mudar. Nem todos terão estômago para aquela vida, apenas os “cowboys solitários”, diz. “Tínhamos tempo a mais para o que tínhamos para fazer.” Mas André adaptou-se e a pesca e a caça submarina entraram na sua vida.

São carências que proporcionaram memoráveis de abundância, sobretudo em relações pessoais. “Ajudou-me a criar ligações pessoais únicas. Fiz os melhores amigos, mas nem sempre foi fácil.” Há gente “mais rija”. “A mãe do meu melhor amigo só me recebeu em casa em Junho. Agora, quando lá vou, é obrigatório ficar em casa dela.”

O saldo daquele ano no rochedo é infinitamente positivo. “Adorei viver no Corvo. Sentar-me a olhar para as Flores, sem fazer mais nada. No continente temos demasiadas actividades e ficamos sem tempo para a introspecção.”

Habituou-se àquela vida. “E agora sinto saudades de ter tempo. Saudades de poder usufruir das pequenas coisas. Sentas-te à mesa e ninguém tem mais nada para fazer. Exploramos o diálogo e as pessoas a um ponto que já não acontece em mais lado nenhum.”

Etiquetas: Açoresandrecrespofernandofernandesruicaria
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