“Desenhava muito” e “de forma compulsiva”, ao longo de décadas. “Misturava muitos materiais no mesmo suporte” e “deixou imensa coisa produzida”. Um artista “à procura de um estilo próprio e de uma voz expressiva”, que “precisava do desenho para viver”. Não faltam ideias a Vânia Colaço quando fala de Vladimir Aires Rodrigues, que sempre andou entre a tela e a página de texto. “Não sei se era mais prolífico na escrita se no desenho”, diz ao JORNAL DE LEIRIA a curadora das duas exposições sobre Volódia patentes na Marinha Grande. “Eu defino-o como um pintor poeta”.
“Lia muito” e “tinha muitos livros”, depois doados à Câmara Municipal da Marinha Grande e à Escola Superior de Artes e Design de Caldas da Rainha. Gostava de Herberto Helder e de Rimbaud, inspirava-se em Fernando Pessoa. Na pintura, preferia Picasso ou Van Gogh, entre outros. E era um apaixonado por jazz. É o mundo interior de Vladimir Aires Rodrigues – que faleceu aos 47 anos na Marinha Grande, onde se encontrava radicado desde jovem – que agora se revela em dois núcleos, no foyer do Teatro Stephens e no Museu Joaquim Correia, por iniciativa da família, como homenagem póstuma.
Nas 55 obras reunidas sob o título Volódia, nome com o qual os mais próximos o tratavam,fica evidente “a impulsividade” de quem se dedicava a “viver através da arte”, assinala Vânia Colaço. Mas, também, “um lado doce” que se manifestava nas relações de amizade e a “ligação muito grande com o pai”, António Aires Rodrigues, antigo deputado do PS, fundador do POUS e candidato à Presidência da República, que cedeu o espólio de desenhos, pinturas, poemas, anotações e fragmentos literários.
Em Volódia: Paisagens Mentais, no Teatro Stephens, que recupera uma frase do próprio Vladimir Aires Rodrigues, é possível perceber, através da representação de memórias, vivências e sítios por onde passou, “que houve evolução técnica, que ele estava sempre numa tentativa de se melhorar a si próprio”, comenta Vânia Colaço. Por outro lado, Volódia: Cântico Selvagem, para ver no Museu Joaquim Correia, parte do poema homónimo. “Que ele escreveu em resposta a um texto do Fernando Pessoa no Livro do Desassossego”. Duas exposições “que se complementam” e que podem ser visitadas até 2 de Novembro de 2024.