Sempre quis ter o seu próprio negócio, desejo que concretizou em Maio com a abertura da Lisqueijo, no centro histórico de Leiria. Para o fazer, Dora Pedrosa deixou o emprego que tinha como técnica num SPA. Como ela, muitos outros têm tido a garra de trocar o certo pelo incerto e de ir atrás do sonho. É também esse o caso de Sofia, Carina e Rodrigo, cujas histórias aqui contamos.
Dora Pedrosa abriu a loja de venda de queijos em sociedade com o namorado. O investimento rondou os 20 mil euros. A ideia de avançar com um negócio deste género começou a germinar quando em 2015 viveram na Suíça, país com grande tradição neste tipo de espaços. Em 2017 regressaram a Leiria e arranjaram emprego. A jovem de 30 anos trabalhava em part-time e a vontade de ter algo seu não a largava.
“É um risco ter o próprio negócio, nunca sabemos se vai dar certo. Todos os dias se vêem negócios que parecem bons a fechar”, diz Dora Pedrosa. A isto junta-se a responsabilidade de pagar a fornecedores, a “preocupação constante”, o nível de exigência e a incerteza a nível financeiro. “Com 30 anos as pessoas decidem comprar casa ou ter filhos. Nós tivemos este filho”, afirma.
“Sonhar alto custa tanto como sonhar pequeno. Se vivermos com o foco de chegar alto, nada nos impede de ter sucesso”, afirma Carina Pereira, que reconhece sempre ter tido a ambição de criar o seu negócio. Há seis anos, quando estava grávida da primeira filha, decidiu que era o momento. Trabalhava já na área da estética e resolveu abrir um espaço onde pudesse apostar em serviços de estética avançada (dermopigmentação paramédica e dermaplasma).
Juntou-se a uma pessoa de família e investiram cerca de 50 mil euros na Clínica Viva, na Quinta do Taborda, Leiria. Uns anos mais tarde acabou por ficar sozinha à frente do negócio. Reconhece hoje que a ambição de ter o próprio negócio pode ter sido “um bocadinho inconsciente”. “Só temos realmente a noção da responsabilidade quando avançamos com o projecto”.
Para Carina Pereira, de 34 anos, ter um negócio próprio traz liberdade de tomada de decisões. Por outro lado, está-se a construir algo seu. Mas há os aspectos menos positivos. A responsabilidade, o “nunca desligar” do negócio, o tempo todo decidado ao mesmo. Além do facto de se trocar o certo pelo incerto. “Quando trabalhamos para outrem podemos até trabalhar muitas horas, mas sabemos que recebemos o ordenado, os subsídios e eventualmente as horas extra. E fazemos a gestão da nossa vida em função dessa certeza. Quando temos um negócio próprio não é bem assim, pelo menos no início”.
[LER_MAIS]“Foi o maior risco que corri na vida, mas só assim é que mostramos a nossa fibra”. A jovem entende que são precisos mais empreendedores com capacidade de arriscar e de criar novos negócios, mas admite que nem sempre é fácil, porque são precisos pilares. No seu caso, destaca o papel da família, que sempre a apoiou, mesmo quando o projecto lhe tomava todo o tempo. “Até ao momento em que conseguimos começar a delegar, recai tudo sobre nós e temos de nos dedicar muito ao negócio”.
“Sempre tive a pancada de abrir um tasco”, afirma Sofia Xavier, que gosta muito de comer e de estar à volta da mesa com amigos. Em 2016, mudanças na vida pessoal fizeram-na encarar mais a sério a ideia, depois de desafiada pelo irmão nesse sentido. Pediu uma licença sem vencimento no trabalho (era designer gráfica no Diário de Notícias) e depois acabou mesmo por se despedir para abrir com mais três sócios o restaurante Ao Largo, junto ao Mercado Sant’Ana, em Leiria. O espaço funciona desde Maio de 2017.
A jovem de 39 anos reconhece que, embora abrir um negócio na área da restauração fosse algo que “queria mesmo fazer”, “foi preciso coragem para trocar o certo pelo incerto”. Quando não se percebe da actividade, como era o caso, é ainda necessária uma grande aprendizagem. Mas Sofia Xavier reconhece que o desafio é compensador.
“É muito bom sonhar e realizar os sonhos, mas estes rapidamente podem virar pesadelos. E percebemos isso assim que o negócio arranca”, constata. É que há que ter em conta a necessidade de gerar recursos para pagar a fornecedores e a trabalhadores. “Não quero desincentivar ninguém, mas não é tudo bonito. Temos uma grande responsabilidade para com os trabalhadores, e isso tira o sono”.
“Sempre ouvi falar sobre a preocupação que é ser patrão, mas só se percebe realmente quando se passa para esse papel. Não adoro estar no lugar de patrão. A responsabilidade é muito grande e gera ansiedade. É preciso aprender a estar neste lugar, para não sermos injustos nem desumanos, mas para também não prejudicarmos a empresa”, afirma Sofia Xavier.
“A única vantagem que se tem em trabalhar por conta própria é a liberdade”. Como sempre entendeu que “a cozinha é uma arte”, que precisa de liberdade criativa, Rodrigo Cavalheiro decidiu há cerca de um ano deixar o emprego que tinha num restaurante em Leiria, e abrir o restaurante Pizarista. Neste espaço, na Marinha Grande, aposta nas pizzas e na cozinha de autor.
Fê-lo movido por aquilo que designa como “necessidade de artista”: ser livre para criar. “A paixão e a liberdade são o que me move e mantém. Porque quando se tem um negócio só há incertezas, é muito duro”, garante. Como teve de fazer um investimento “grande” para abrir o espaço, Rodrigo Cavalheiro, 44 anos, tem consciência dos riscos. “Se cair bato de cabeça no chão e vou aleijar-me”.
Ter um negócio próprio implica, portanto, uma preocupação constante com vários aspectos, do mais pequeno ao mais estruturante. A parte financeira é uma delas, embora nem sempre o próprio ordenado seja uma prioridade. “O ordenado é uma preocupação quando se é empregado. Quando és patrão tens outras preocupações, tens um milhão de coisas para pagar. O teu salário deixa de ser a prioridade, porque essa passa a ser o progresso do negócio”, diz o dono do restaurante Pizarista.