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O filósofo grego, Aristóteles, disse um dia que “o homem é por natureza um animal político”.
A campanha para as eleições legislativas a que estamos a assistir parece já ter remetido este conceito para as calendas, ao concentrar os holofotes não tanto no “animal político” que há em cada candidato, mas no “animal do político”.
Numa conversa de supermercado, ouvem-se os lamentos sobre “o preço das coisas, que não pára de aumentar”…
Mas logo a seguir, entre o ritual de passar o cartão de cliente, entregar um talão de desconto, confirmar que quer factura com contribuinte e responder à pergunta se está a coleccionar os selos, a troca de palavras de circunstância resvala para o assunto do momento: a campanha eleitoral e o Zé Albino.
Todos já devem conhecer o Zé Albino, mas ainda assim, vale a pena recordar que se trata do gato de estimação de Rui Rio, líder do PSD e candidato a primeiro-ministro, que veio acrescentar um novo tema à disputa por um lugar no Parlamento.
A foto do felino, em pose pachorrenta, entrou de rompante nos diários televisivos, para servir de ilustração a uma mensagem política, publicada no Twitter pelo candidato social-democrata.
Como a disputa pelo voto já se faz muito pela via digital, não tardou a entrar em cena outro animal de estimação.
Rui Tavares, candidato do Livre, respondeu de imediato, com outra mensagem política, usando como suporte a imagem do seu peludo gato Camões.
E, atento ao ritmo das redes sociais, João Cotrim Figueiredo, da Iniciativa Liberal, apressou-se a juntar à ‘festa’ a sua cadela Bala, obviamente para deixar também a sua mensagem eleitoral.
No dia seguinte, já com o assunto a dominar as conversas de café, entrou ainda na berlinda a coelha Acácia, fotografada a preto e branco, e nomeada porta-voz das convicções do seu tratador, o líder do Chega, André Ventura.
É sabido que o Twitter, enquanto rede social, não é dos mais frequentados pela maioria dos internautas.
Mas é acompanhado por muitos políticos e líderes de opinião, inclusive por jornalistas sedentos de um belo fait-divers. Ingredientes mais do que suficientes para desviar o foco da campanha.
Regressando ao supermercado, um dos intervenientes na conversa insiste no tema que se tornou viral nos últimos dias.
– “Se calhar, o Zé Albino fazia melhor do que ele [o dono] se fosse para o Governo”, graceja o homem, exibindo um sorriso trocista.
Embora mais preocupada em escrutinar, parcela a parcela, o preço dos alimentos que acabara de comprar, para entender o porquê do valor final, a sua interlocutora ainda teve tempo para balbuciar, antes de sair com o saco das compras na mão: “O que eles mereciam é que lhes fizéssemos como o Zé Povinho”.
