Nem a propósito do Halloween, que parece que agora também é uma tradição portuguesa não sei muito bem porquê, passei toda uma semana em modo zombie – graças à também já tradicional semana de recepção ao caloiro de Leiria.
O nível de decibéis a que estive sujeita até às 4 da manhã mereciam um tratado só por si, e mais ou menos por volta da quarta-feira passada, já estava num desespero tal, que até dei por mim a planear minuciosamente, madrugada fora, o tipo de tortura que aplicaria aos responsáveis pelo meu desconforto. Eu… que sou contra a tortura.
Mas é como digo, tenho estado em modo zombie – e também offline.
Já não consigo lidar com as redes nem com o pseudo jornalismo hegemónico. Ainda assim, sempre que venho à tona, na busca ávida por cérebros frescos que me alimentem, sou bombardeada por acontecimentos que colocam os meus pequenos problemas a um canto de insignificância. Eu tenho sono, mas a Amazónia está a arder e ninguém quer verdadeiramente saber.
Estou cansada, mas no Chile “não sei quantos mil” voltam a enfrentar (alguns até à morte) a violência estatal do neoliberalismo selvagem.
Tenho raiva dos novos “morceguitos” que me atormentam à noite com a sua festa, mas em Inglaterra experimenta-se não respeitar a democracia, para ver até onde estica a corda. Já se notam as minhas olheiras, mas na Catalunha condenam-se presos políticos a 13 anos de prisão como se ainda fosse o Franco a mandar.
Estou mal humorada, mas em Portugal quem tem dinheiro manda-o para paraísos fiscais, enquanto afirma que não tem dinheiro para pagar mais que 600 euros por mês a trabalhadores. Apetece-me gritar, mas no Parlamento Europeu perde-se, por dois votos que poderiam ter sido portugueses, a possibilidade de salvar da morte quem foge dela.
É. Não é para mim que o mundo está complicado. Não sei muito bem para onde nos havemos de virar, mas definitivamente temos de nos virar para algum lado. Fazer alguma coisa. Exigir responsabilidades de quem decide, informarmo-nos, procurar soluções.
Andamos todos em modo zombie, afinal, sugados em trabalho, pouco descanso, indiferença. Andamos todos a tirar uma sesta da vida, à espera que quem venha a seguir resolva. Tem tudo para dar certo.